Gosto de coisa antiga. Minha cama é do século 18, meu sofá dos anos 60, a louça
da minha casa foi presente de casamento dos meus pais. Não resisto a um brechó,
feira de antiguidade é meu programa obrigatório em todo país que visito, só
leio livro de quem já morreu e prefiro bater papo com a minha avó do que
assitir ao último vídeo coqueluche do youtube.
Mas ao contrário do que parece, não sou nostálgica. O passado que eu gosto não é o meu próprio. Não tenho saudade da minha infância, prefiro ser adulta. Não queria de jeito nenhum ter 8 anos novamente.
Mas ao contrário do que parece, não sou nostálgica. O passado que eu gosto não é o meu próprio. Não tenho saudade da minha infância, prefiro ser adulta. Não queria de jeito nenhum ter 8 anos novamente.
Mudei de endereço muitas vezes nos
últimos anos e em cada mudança fui
atropelada por muita coisa da minha história: uma agenda de 1997, um uniforme
do primário todo assinado pelos colegas, cartões de amor eterno de amores que
duraram pouco. Joguei quase tudo fora, sem pena. Não é o meu passado que me
comove, mas o dos outros.
É o que eu nunca vivi que me encanta: as festas em que eu nunca fui com meu vestido dos anos 60, as casas onde minha poltrona cinquentista viveu e eu nem tinha nascido, as histórias do quarto de hotel de onde veio essa luminária enferrujada, isso sim me emociona. Nem quero saber o que aconteceu de verdade com nenhuma das minhas velharias. Tenho certeza que a realidade não chegaria aos pés da minha imaginação.
Na verdade, histórias reais me cansam um pouco. Me interesso mesmo é por ficção. Já acho chato ler biografia de gente que mudou o mundo, imagina ficar revisitando o meu próprio passado.
É o que eu nunca vivi que me encanta: as festas em que eu nunca fui com meu vestido dos anos 60, as casas onde minha poltrona cinquentista viveu e eu nem tinha nascido, as histórias do quarto de hotel de onde veio essa luminária enferrujada, isso sim me emociona. Nem quero saber o que aconteceu de verdade com nenhuma das minhas velharias. Tenho certeza que a realidade não chegaria aos pés da minha imaginação.
Na verdade, histórias reais me cansam um pouco. Me interesso mesmo é por ficção. Já acho chato ler biografia de gente que mudou o mundo, imagina ficar revisitando o meu próprio passado.
Veja bem: não sou desapegada. Meus
melhores amigos ainda são os da minha turma do colégio. Mas não porque
eles representam um museu de mim mesma, mas sim porque estão no meu presente até hoje. Eles
vieram comigo, não ficaram só lá na história, não são personagens de um álbum
de fotografia. São gente de carne e osso com quem, cada ano que passa, tenho
mais certeza que quero passar o resto da minha vida. Gostar deles não é uma
homenagem póstuma, é uma escolha diária.
Por isso, meu querido, respondendo a sua pergunta. Sim, eu sinto sua falta. Mas não dos nossos tempos antigos, das primeiras viagens, de quando tudo começou, isso não.
Por isso, meu querido, respondendo a sua pergunta. Sim, eu sinto sua falta. Mas não dos nossos tempos antigos, das primeiras viagens, de quando tudo começou, isso não.
Sinto falta do que a gente teria amanhã se ainda estivesse junto.
Quem você seria, quem eu seria? Qual ia ser a cara do nosso filho? Você ia
ficar bem de cabelo branco? Como a gente ia lidar com a morte do nosso
cachorro? Como a gente ia fazer pra continuar se amando? O primeiro beijo eu me lembro, tudo bem,
mas como seria nosso último beijo se a gente vivesse feliz para sempre?
A história real está resolvida. É
da ficção que inventei pra gente que sinto falta.
Se fosse pra ser um futuro talvez
eu me animasse. Mas o que a gente foi eu já conheço, obrigada. Gosto de coisa
antiga sim, mas ao meu redor, não dentro de mim. Se é pra ter um passado
ocupando meu quarto, me cobrando um ontem, me esfregando na cara algum tipo de
história, prefiro que seja minha cama Luis XV.
Saudade do q nao vivi...pq sentimos essa falta? O q foi ja se completou, é passado, nao volta....ou se volta é presente. Ainda espero...
ResponderExcluirAdorei o texto!
Adorei o texto!!! As coisas que carrego comigo são as mais velhas possíveis. Umas tratadas pelo presente. Outras esquecidas para o futuro chegar. Mas, aquilo que era novo e não ficou velho comigo fica atemporal na minha vida. Eu deixo. Esqueço. Combino minhas velharias com as minhas roupas e minhas preferências por pérolas. ;)
ResponderExcluirEscreva mais. Escreva sempre.