terça-feira, 6 de março de 2012

Alguma Suécia


Para rivalizar com os atuais tempos superexposição, surgiram os defensores do  superresguardo. Uma milícia dos bons modos. Uma espécie de ditadura da sutileza.

De repente ficou feio ter qualquer reação mais efusiva. Quem é cool mesmo nunca se exibe. Fotografe mas não poste, curta mas não comente. Comente, mas não compartilhe.  Tenha todas as redes sociais, mas de preferência não use. 

A coisa ainda se extende ao mundo real.  Quem sai do cinema falando que “adorou!” um filme parece burro. Quem sai falando que achou “de certa forma interessante.” parece um grande entendido.

Sentir entrou em decadência. Caps Lock é falta de educação, exclamação é uma deselegância, elogiar é para os incultos. Um tapinha nas costas, breve e de longe, é sempre mais seguro. Não fique tão animadinho, vista o terno Armani do cinismo. Todo mundo fica mais chique no inverno, não é mesmo? Branco combina com tudo. 

Além disso, gente reservada consegue enganar por mais tempo que é inteligente. Parece que eles estão sempre escondendo alguma coisa brilhante, algo que não é pra você.  Você conta que ganhou na loteria, que vai casar, que vai mudar pra Austrália e o sujeito levanta as sobrancelhas como se estivesse acostumado a tudo, como se tivesse feito isso ontem. E boceja.

Sei não, eu ando enjoada de gente blasé. Cansada de coisa pela metade. Superexposição é bem ridículo, mas acho tão chato quanto gente muito discreta, toda escondida. Eu quero mais é contar que estou feliz, meus escândalos já me ajudaram a ganhar algumas batalhas e quer saber? Chorar em público tem suas vantagens.

Mas eu entendo quando estes resguardados usam sua expressão favorita: "não precisa". Não precisa dizer que ama na frente de todo mundo, não precisa gritar quando passar na prova, não precisa xingar, não precisa buzinar, não precisa senão - veja que terrível: vão acabar te confundindo com um ser humano.

O excesso de sutileza é uma mentira grande demais pro meu gosto. Está todo mundo à beira de explodir então não venha me convencer que aí dentro de você é alguma Suécia.



4 comentários:

  1. Morando na Europa fica ainda pior. Outro dia fui falar com o senhor sentado ao meu lado e vi que ele era uma estatua. A distincao entre os dois eh extremamente sutil.

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  2. uma vez precipitada, Patricia, nada de ar blasé, um tropicalismo, cazuzamente exagerado é que dá o tom; como sempre, gostei muito. vou compartilhar.

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  3. Para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada.

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  4. Patrícia, descobri seu blog no Um ano sem zara e adorei todos os textos! Nem quero ser mãe, mas identifiquei a minha em um punhado deles hehe

    Você deixaria eu compartilhar seu texto no fb citando a fonte? hehe

    Um abraço e parabéns pelos textos incríveis! :D

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