Para rivalizar com
os atuais tempos superexposição, surgiram os defensores do superresguardo. Uma milícia dos bons modos. Uma
espécie de ditadura da sutileza.
De repente ficou
feio ter qualquer reação mais efusiva. Quem é cool mesmo nunca se exibe. Fotografe
mas não poste, curta mas não comente. Comente, mas não compartilhe. Tenha todas as redes sociais, mas de
preferência não use.
A coisa ainda se
extende ao mundo real. Quem sai do cinema falando que “adorou!” um filme parece burro. Quem sai falando que achou
“de certa forma interessante.” parece um grande entendido.
Sentir entrou em
decadência. Caps Lock é falta de educação, exclamação é uma deselegância,
elogiar é para os incultos. Um tapinha nas costas, breve e de longe, é sempre
mais seguro. Não fique tão animadinho, vista o terno Armani do cinismo. Todo mundo fica mais chique no inverno, não é mesmo? Branco combina com tudo.
Além disso, gente reservada
consegue enganar por mais tempo que é inteligente. Parece que eles estão sempre
escondendo alguma coisa brilhante, algo que não é pra você. Você conta que ganhou na loteria, que vai
casar, que vai mudar pra Austrália e o sujeito levanta as sobrancelhas como se
estivesse acostumado a tudo, como se tivesse feito isso ontem. E boceja.
Sei não, eu ando
enjoada de gente blasé. Cansada de coisa pela metade. Superexposição é bem
ridículo, mas acho tão chato quanto gente muito discreta, toda escondida. Eu
quero mais é contar que estou feliz, meus escândalos já me ajudaram a ganhar
algumas batalhas e quer saber? Chorar em público tem suas vantagens.
Mas eu entendo quando estes resguardados usam sua expressão favorita: "não precisa". Não precisa dizer
que ama na frente de todo mundo, não precisa gritar quando passar na prova, não precisa xingar, não precisa buzinar, não precisa senão
- veja que terrível: vão acabar te confundindo com um ser humano.
O excesso de sutileza é uma mentira grande demais pro meu gosto. Está todo mundo à beira de explodir então não venha me convencer que aí dentro de você é alguma Suécia.
Morando na Europa fica ainda pior. Outro dia fui falar com o senhor sentado ao meu lado e vi que ele era uma estatua. A distincao entre os dois eh extremamente sutil.
ResponderExcluiruma vez precipitada, Patricia, nada de ar blasé, um tropicalismo, cazuzamente exagerado é que dá o tom; como sempre, gostei muito. vou compartilhar.
ResponderExcluirPara o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada.
ResponderExcluirPatrícia, descobri seu blog no Um ano sem zara e adorei todos os textos! Nem quero ser mãe, mas identifiquei a minha em um punhado deles hehe
ResponderExcluirVocê deixaria eu compartilhar seu texto no fb citando a fonte? hehe
Um abraço e parabéns pelos textos incríveis! :D