- Oi, amor
- Ana, a gente precisa conversar.
- É a nova empregada, né? Olha aqui como ela arruma as
coisas. Tudo assim, verticalzinho, viradinho...Fora que ela fica pendurada no
telefone o dia todo.
- Ana, eu conversei com a Cláudia...
- Cláudia? A nova empregada não é Cleide?
- Ana, eu tô falando da Cláudia, minha psicóloga.
- Desde quando a sua psicóloga se chama Cláudia?
- Desde o dia que ela nasceu, Ana. É o nome dela.
-Não, Luciano. Quando eu te conheci você ia na
psicóloga, pagava a psicóloga, mentia pra sua psicóloga. Mas Cláudia, Cláudia
assim, sem nem sobrenome, é muita intimidade...
-Tá vendo, é isso, é impossível, você tem ciúmes até
da minha psicóloga.
-Não, não, não. Da sua psicóloga eu nunca tive ciúmes.
Eu tô com ciúmes é dessa tal de Cláudia que eu nunca ouvi falar. E que – pior –
agora é a razão pra você querer conversar comigo.
-Eu acho que a gente deve se separar.
-Você acha ou a Cláudia acha?
-Ela concorda.
-Quem essa vadia pensa que é pra acabar com o meu
casamento assim?
-Ninguém tentou salvar esse casamento mais do que a
Cláudia.
-E quem disse pra ela que nosso casamento era algo que
precisava de uma salvação?
-Ana...
-O sobrenome.
-Que?
-Eu quero saber o sobrenome dela.
-Você tá louca.
-Anda, Luciano.
-Você vai fazer o que, matar ela?
-Eu só quero falar com a pessoa. Que mal pode haver
nisso? Se ela te convenceu que a separação é a melhor coisa pra gente, quem
sabe ela não me convence também?
Ana vai até o consultório.Uma senhora de seus de 75
anos e bem gorda abre a porta.
-Oi, eu vim falar com a Cláudia.
-Pois não.
-Ela está?
-Sou eu mesma.
Era pra Ana ficar feliz, mas que nada. Mulher prefere
sempre ter razão. Ana volta pra casa com mais raiva ainda do marido.
-Você não vale nada mesmo, Luciano. Por que você não
disse que a Cláudia era daquele jeito?
-De que jeito?
-Gorda, Luciano! Velha! Ela deve ter uns 100 anos.
-Isso não tinha nada a ver com a nossa
conversa.
-Como não? Eu achei que você tava apaixonado pela Claudia. Quem é então, me diz.
-Não tem ninguém. Eu só quero pensar na
vida.
-Que novidade é essa de pensar na vida? Você nunca foi
disso.
- Eu tô sendo sincero.
- Se eu pego essa vagabunda.
-Você quer achar um culpado fora da história. Como se
aqui dentro não tivesse motivo suficiente. Quem acabou com o nosso casamento
foi a nossa preguiça, nossa indiferença, a nossa infinita capacidade de ser
óbvios. A gente é tão óbvio, Ana. Tão previsível.
Ana para pra pensar. Luciano confunde ela quando fala
bonito assim.
- Peraí. "Coitada" da Cleide?
-Ana...
-É a Cleide, né? Eu sabia. É tão a sua cara comer a
empregada, Luciano. Não vai me dizer que é com você que ela ficava pendurada no
telefone o dia todo.
Luciano desistiu de ser honesto, abriu mão de separar
e começou a comer a Cleide no dia seguinte.
Ele bem que tentou, mas sinceridade dá muito
trabalho.
hahaha excelente!
ResponderExcluirFiquei imaginando cena por cena, coitado desse Luciano.
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