segunda-feira, 11 de junho de 2012

Supérflua

As orquídeas não servem pra nada.
Anteras, estomas, estigmas, rizomas bem que se esmeram - em vão.
Arnica no tombo, camomila na insônia, manjericão no molho, lavanda no quengo.
Mas a orquídea, muito egípcia, tá se danando pra a sua mazela.
Ela na sala é uma rainha exibida e exótica e abusa toda erótica suas cores.
Maracujá basta ter terra, cactus sobrevive a um bombardeio, violeta se cria até em banheiro de consultório.
 Orquídea morre com vento, com sol, com chuva, morre de muito e de pouco, morre até de tristeza.
Mas ela nem liga e arrota arrogante seus labelos e bainhas nas flores que são fáceis.
(Não se tem notícia de nenhuma orquídea que quis ser margarida.)
Então haja ardósia, açaí,  nó de pinho, brita, barro, dolomita, piaçava, haja carvão pra adubar essa dondoca.
As orquídeas são inúteis mas você vai erguer um castelo pra elas: estufa, ripado, fumo, xaxim, papel celofane, ufa.
Já ela, adivinha: não vai fazer nada por você.
Nem um calmante, nenhuma compressa, nem um chazinho.
A orquídea é esqueleto e substrato de tudo que é deslumbrante e só.
Ela sabe que não há nada mais imprescindível que o supérfluo.
As orquídeas não servem pra nada.
E no entanto cada orquídea é urgente.

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