terça-feira, 12 de junho de 2012

alcachofras são paroxítonas



-       Uma alcachofra.
-       Como assim alcachofra?
-       A alcachofra é uma flor, você sabia?
-       Ninguém dá alcachofra de presente pra namorada.
-       A gente não era namorado.
-       A alcachofra era uma não-flor para uma não-namorada. Entendi.
-       Depois a gente saiu pra jantar.
-       Ele tem cara que pede vinho caro.
-       Ele pediu chá.
-       Quem é que janta chá?
-       Aí ele pediu um carnaval.
-       Justo.
-       Aí ele pediu minha mão.
-       Nunca achei que eu fosse te ver assim, de noiva.
-       Nunca achei que eu fosse me ver assim de novo.
-       Isso só acontece em novela.
-       E a gente nem vê novela.
-       É coisa de fim de filme, sabia?
-       Eu sempre durmo no começo dos filmes.
-       Ele te acorda?
-       Melhor: ele me deixa sonhando.
-       Mas e a realidade?
-       Experimenta colocar uma grinalda.
-       Vocês não foram rápido demais?
-       Aqui  não tem radar.
-       Será que não é muito cedo?
-       A gente não usa relógio.
-       Mas e os divórcios? As dúvidas? As estatísticas? E a ciência? A matemática? A lógica?  E a última? E a próxima?

   (Deixa o mundo gritar suas proparoxítonas todas agudas e acentuadas, amor. Deixa que alcachofras são raras, mas não tem acento nem hífen).

Um comentário:

  1. Você está inibindo a minha vontade de escrever... eu penso em escrever algo, mas aí leio teu texto e você já disse tudo. bravo! bravo!

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