quinta-feira, 17 de maio de 2012

Desembarque


Essa porta-automática parece que brinca de esconde-esconde com a gente.
Abriu.
É Maninho ou não é?
Se tiver olho arregalado, cabelo espetado colorido, se tiver dente de alumínio e pé torto eu sei que é.
Fechou.
Sorte de quem tem alguém esperando com placa e tudo. Club Med. Senhor Alvarez. CVC.
Abriu.
É Maninho ou não é?
Passa criança-mickey, 5 caixas de whiskey andam sozinhas, chegam duas velhas de moletom colorido, aterrisa um time inteiro de handebol.
Fechou.
É o tempo de eu morrer de saudade. Abre, gente! Esse povo não tem pena da nossa agonia não?
Abriu.
É Maninho ou não é?
Quero tanto ver meu menino que vejo. Olha ele ali. Não é. Ou é?
Fechou.
Dá licença, criatura, sai da frente, homem, veio todo mundo aqui hoje só atrapalhar minha vida, será possível.
Abriu.
É Maninho ou não é?
Agora é. Só que essa porta é mágica que ano passado deixei aqui um garoto e agora me entregam esse marmanjo embrulhado num terno.
É Maninho ou não é?
O cabelo não tem mais arrepio nem cor de papel crepom, o dente não é mais prata. Mas o jeito de coçar a cabeça é o mesmo se você reparar, repara que é.
Maninho!, eu chamo.
Ele me abraça pesado, mas pede. Maninho não, vó, é Manuel.
É Maninho ou não é?
Deixa ele pensar que não. Pra mim sempre vai ser.


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