É fácil entender toda a auto-ajuda
barata do mundo. Uma semana internada num hospital com uma doença semi-grave e
quando se dá conta, plim! Você virou uma mistura de Ana Maria Braga com Padre
Marcelo Rossi. 5 dias de UTI são tão traumáticos que você vai rapidinho adotar
o discurso de “aproveitar os pequenos momentos”, “o que vale mesmo é família e
amigos” e que “o importante é ter saúde que o resto a gente corre atrás.” E
tudo isso é tão absolutamente verdadeiro, que é preciso muito cinismo, mau
humor e sarcasmo pra superar a vontade louca que estou nesse momento de tatuar um
Carpe Diem bem grande no cócxi e sair
cantando Singing in the Rain pelada em plena Avenida Paulista apenas por estar
viva.
Para evitar esse tipo de
constrangimento, resolvi escrever sobre o assunto. Como eu tenho muito medo de
alguém usar minhas frases como template cafona de superação no Instagram , aqui
vão as coisas que de fato me salvaram na UTI (embora os médicos insistam em
dizer que foi hidratação e repouso):
1. O
CLIMA DE FIM DE MUNDO NA GLOBONEWS. As trapalhadas de Dilma e a alta do dólar na cobertura da Globo faziam parecer que o mundo ia acabar todos os dias. E quando você tá na merda,
dá uma sensação boa saber que tá todo mundo na merda também!
2. FACEBOOK,
POR FAVOR NUNCA VIRE UM LUGAR RESPEITÁVEL. Selfies constrangedores, memes
imbecis e discussões superficiais, ah, que dádiva! Meu braço estava furado em 4
lugares diferentes e ainda assim eu tinha motivos para sorrir. Zuck, obrigada
por esse mar de ignorância, se o Face fosse um simpósio acadêmico talvez eu não
estivesse mais aqui.
3. MÃE,
MARIDO, AMIGOS E FILHO. Obrigada mamãe pelo eterno otimismo – “Essa sopa de
jiló do hospital tá com uma cara ótima! Hmmmm! Melhor que a do Maní!”. Obrigada
meu marido de 1 metro e 92, por ter dormido todos esses dias numa cama que
terminava na altura de seus joelhos. Obrigada Inacio, por não entender nada e ter ficado brincando de fazer a cama subir e descer como se fosse a coisa mais legal do mundo. Obrigada aos amigos super presentes que
mandavam mensagens e que me fizeram chorar de tanta fofura. E aos amigos
ausentes por terem continuado ausentes! Tem uma galera do Rio que no dia que
aparecer aqui eu vou ter certeza de estar à beira da morte!
Agora chega de agradecimento que
isso aqui não é Oscar, é dengue. No episódio de hoje amiguinhos, aprendemos que
se você tá reclamando de comida de avião, cama de hotel e alta do dólar, você
tá ótimo! Comida de hospital, cama de UTI e baixa de plaqueta, isso sim que é
fim de linha.
E podem ter certeza que depois da
dengue eu me tornei uma pessoa melhor e nunca mais reclamarei da vida, nunca
mais falarei mal de ninguém e nunca mais gastarei fortunas em roupas que não
preciso. Não sem antes passar um belo de um repelente.
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