segunda-feira, 23 de março de 2015

Carpe Diem tatuado no cócxi

É fácil entender toda a auto-ajuda barata do mundo. Uma semana internada num hospital com uma doença semi-grave e quando se dá conta, plim! Você virou uma mistura de Ana Maria Braga com Padre Marcelo Rossi. 5 dias de UTI são tão traumáticos que você vai rapidinho adotar o discurso de “aproveitar os pequenos momentos”, “o que vale mesmo é família e amigos” e que “o importante é ter saúde que o resto a gente corre atrás.” E tudo isso é tão absolutamente verdadeiro, que é preciso muito cinismo, mau humor e sarcasmo pra superar a vontade louca que estou nesse momento de tatuar um Carpe Diem bem grande no cócxi e sair cantando Singing in the Rain pelada em plena Avenida Paulista apenas por estar viva.
Para evitar esse tipo de constrangimento, resolvi escrever sobre o assunto. Como eu tenho muito medo de alguém usar minhas frases como template cafona de superação no Instagram , aqui vão as coisas que de fato me salvaram na UTI (embora os médicos insistam em dizer que foi hidratação e repouso):
1.     O CLIMA DE FIM DE MUNDO NA GLOBONEWS. As trapalhadas de Dilma e a alta do dólar na cobertura da Globo faziam parecer que o mundo ia acabar todos os dias. E quando você tá na merda, dá uma sensação boa saber que tá todo mundo na merda também!
2.     FACEBOOK, POR FAVOR NUNCA VIRE UM LUGAR RESPEITÁVEL. Selfies constrangedores, memes imbecis e discussões superficiais, ah, que dádiva! Meu braço estava furado em 4 lugares diferentes e ainda assim eu tinha motivos para sorrir. Zuck, obrigada por esse mar de ignorância, se o Face fosse um simpósio acadêmico talvez eu não estivesse mais aqui.
3.     MÃE, MARIDO, AMIGOS E FILHO. Obrigada mamãe pelo eterno otimismo – “Essa sopa de jiló do hospital tá com uma cara ótima! Hmmmm! Melhor que a do Maní!”. Obrigada meu marido de 1 metro e 92, por ter dormido todos esses dias numa cama que terminava na altura de seus joelhos. Obrigada Inacio, por não entender nada e ter ficado brincando de fazer a cama subir e descer como se fosse a coisa mais legal do mundo. Obrigada aos amigos super presentes que mandavam mensagens e que me fizeram chorar de tanta fofura. E aos amigos ausentes por terem continuado ausentes! Tem uma galera do Rio que no dia que aparecer aqui eu vou ter certeza de estar à beira da morte!
Agora chega de agradecimento que isso aqui não é Oscar, é dengue. No episódio de hoje amiguinhos, aprendemos que se você tá reclamando de comida de avião, cama de hotel e alta do dólar, você tá ótimo! Comida de hospital, cama de UTI e baixa de plaqueta, isso sim que é fim de linha.
E podem ter certeza que depois da dengue eu me tornei uma pessoa melhor e nunca mais reclamarei da vida, nunca mais falarei mal de ninguém e nunca mais gastarei fortunas em roupas que não preciso. Não sem antes passar um belo de um repelente.


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