quinta-feira, 11 de julho de 2013

Guerra e Paz

Escrevo do centro da batalha. Começou comigo deitada e rendida, os outros ali para salvar ele. O grande homem mais importante do mundo, seus 48 centimetros, seus 3 quilos e sessenta.  
Ele chora, depois eu e todos. Ele grita e nós rimos triunfantes: a humanidade venceu outra vez. No quarto eles me costuram do trauma, da amputação. Se já dói lhe arrancarem um dente, imagina um filho.
Nessa trincheira tudo sou eu: os aliados e inimigos, os tiros cegos para o alto no escuro e os mísseis inteligentes. 
Em casa viro uma máquina. Uma fábrica miraculosa e bombardeada que não pode parar de funcionar. Toda esta fabrica é também a mãe: as engenhocas e traquitanas, os funcionários, a matéria-prima mais essencial e o lixo que sobra.
Isso para que ele possa chorar mais e cobrar tiranicamente o que lhe prometi quando o inventei: a vida.
Eis o trato - eu o salvo de morrer, ele me salva de ser mortal.
De repente, então:
Saber que ele não existe sem mim é a grande tragédia.
Saber que ele existe sem mim é a grande tragédia.
E enquanto o amamento em dias e noites repetidas percebo o óbvio, e concluo o que mesmo a mãe mais dinossáurica já sabia: na verdade é ele quem me alimenta.
Um filho é a verdadeira Grande Guerra e no entanto é a única paz possível pra quem nasceu num corpo de mulher.

Nenhum comentário:

Postar um comentário