Você que não é de São Paulo não
sabe, mas paulistanos não ficam doentes; paulistanos “vão pro Einstein.” É que
paulista gosta de tudo que é bom, bonito e caro e o Einstein é um hospital tão
bom, tão bonito e tão caro que frequentá-lo é mais glamouroso do que ser aceito
no Country Club.
Mas o Einstein não tem nada a ver com meu
texto, isso foi só um pensamento que me
acometeu no primeiro dia de férias, quando eu estava na emergência do Copa
D’oR. Cariocas não gostam de hospital e embora eu já tenha dado entrada na
papelada pra virar paulista de vez, continuo não gostando. E o Copa Dor é um
hospital tão deprimente, frio e lotado como qualquer outro (menos o Einstein.)
O maridão começou a sentir dores
lancinantes abaixo do estômago e eu fiz o diagnóstico na hora: é apendicite. Ele não deu bola, diz
que eu sou hipocondríaca e que acho que estou com apendicite sempre que tenho qualquer dor no corpo - o que é verdade - mas entendam: Minha habilidade em
diagnosticar doenças através do Google é tão avançada que me sinto graduada em Medicina. Fora as especializações que garanti assistindo programas de doença no Discovery Home & Health ao longo dos últimos anos. Pois bem: meu
marido teve que fazer 3 exames de sangue, duas ressonâncias e esperar 5 horas pelos resultados para que os médicos concluíssem o que eu já havia atestado no
primeiro minuto: é apendicite. Dessa vez eu estava certa.
Mas tudo* na vida tem um lado bom,
certo? Mais ou menos. Se você ler essa frase bem de perto vai ver que ali, bem
em cima do “tudo”tem um asterisco bem pequeno que te leva pras letras miúdas lá
de baixo, como num anúncio picareta onde se lê: Apendicite não está incluída
nesta mensagem.
Não, não tem lado bom na apendicite. Superar uma doença grave, sobreviver
a um acidente, essas sim, são experiências transformadoras que podem mudar até
o caráter de alguém (não que ninguém deseje isso pra si, obviamente, mas é um
fato).
Mas apêndice não serve pra nada mesmo, nem como lição de vida. E arrancar algo
que não serve pra nada aparentemente é algo que os médicos fazem com bastante
má vontade. Especialmente um dia antes do Natal. A cirurgia é tão menosprezada
pelo corpo clínico e enfermeiros que tive a sensacão clara que olhavam para
meu marido com certa raiva, como quem diz: você está ocupando o leito que
poderia ser de alguém com uma doença de verdade, sabia? E quando perguntamos
quais as recomendações do pós-cirúrgico só faltavam dizer: ora, por favor.
No fim deu tudo certo: retirou-se o
apêndice, e como ninguém respeita apendicite mesmo, o marido teve alta e voltamos
pra casa. O Copa Dor não é nenhum Einstein, de modo que foi melhor assim: final feliz.
Mas começar o ano falando de
apendicite, pelo amor de Deus. Eu queria deixar uma mensagem nobre e valiosa
para os amigos em 2014. Então vejamos: Se essa história fosse num livro de auto-ajuda eu diria para vocês fazerem uma extração de apêndice na vida em 2014 e
jogarem fora tudo que está dentro de você e não serve mais pra nada, só pra infeccionar.
Se isso aqui fosse um conto chinês
eu faria uma alegoria sobre um homem que vai pro hospital triste por ter uma
apendicite e conhece pessoas com doenças muito piores e se torna um ser humano
mais consciente e feliz para aproveitar cada minuto de sua vida.
Se fosse uma mensagem de fim de
ano da Rede Globo, todos os doentes do hospital se levantariam de seus leitos e começariam
a cantar felizes “Hoje é um novo dia de
um novo tempo que já chegou…”
Só que essa história aconteceu mesmo no Rio de Janeiro,
no calor de 50 graus e foi bem difícil ver otimismo e beleza numa laparoscopia
nesse contexto.
Aí eu vim pro computador e decidi
que essa apendicite ia ter que servir pra qualquer coisa, nem que fosse pra um
texto de blog que pouca gente lê.
Como diria Caetano, como é bom
poder tocar um instrumento.
Um 2014 sem apêndice pra todo
mundo!