segunda-feira, 10 de março de 2014

Antes e Depois


 Amiga dona-de-casa que engravidou sem querer, ou que está fazendo sexo com hora marcada nos dias férteis ou mesmo que já congelou seus melhores óvulos: eu tenho uma notícia boa e uma ruim para todas. A boa é que a gravidez não vai mudar você. E a ruim é que a gravidez não vai mudar você.

Eu sei, você passou a vida inteira ouvindo que isso aconteceria. Que um belo dia um bebê iria te transformar numa pessoa melhor, mais amigável, menos invejosa, menos ansiosa, mais responsável com dinheiro. O grande Antes e Depois do mundo das fêmeas. Centenas de livros e poesias e textos ruins de blog disseminando a máxima “Eu era assim, mas depois da maternidade…”

Tudo mentira. O filho não transforma ninguém. Você vai ter um lindo bebê nos braços e continuar sentindo medo, inveja, raiva e continuar morrendo de preguiça de acordar cedo e continuar tendo vergonha de power point com cachorrinhos dormindo e de crianças que berram pelos corredores dos supermercados (mesmo que essa criança seja sua).

A maternidade não é transformadora. Ela é apenas reveladora.

É no conflito que o caráter se revela e bem, minhas caras, a maternidade é um Big Mac recheado com os flocos crocantes e coberta com todos os tipos de conflitos: físicos, químicos, existenciais, emocionais, amorosos, sexuais. E o que acontece é que no meio disso tudo, é impossível forjar qualquer coisa que não seja genuíno em você. A maternidade é um jato de água na cara que limpa toda maquiagem que você já tenha usado na vida. Por isso, depois de um filho, pasme: você vai ser exatamente quem você é.

Eu sei, você vai dizer que tem uma vizinha que era loucona, de cabelo azul e tatuada e virou uma mãe careta que só deixa o filho comer cenoura orgânica. Sim, todos nós temos essa vizinha. Pois pra mim, na verdade, a vizinha loucona sempre foi essa chata. Todo o resto era um belo disfarce pra ela parecer mais divertida. Antes do filho, você pode brincar de ser qualquer coisa e acho que deve fazer isso até. Depois não dá tempo nem de almoçar direito, quem dirá pintar o cabelo de azul.

E as mães que tem filho e param de trabalhar?, você me pergunta. Com certeza não tinham ambição profissional antes mesmo da gravidez. E as que engordaram 30 quilos? Estavam loucas por uma desculpa pra abandonar a vaidade.

Por outro lado, conheço mães que fumam, bebem, vão pra balada, correm maratonas, trabalham loucamente, pulam carnaval ou apenas gostam de conversar sobre assuntos adultos porque simplesmente sempre foram interessantes e interessadas no mundo. A logística muda, a frequência pode ser diferente, mas se isso faz parte de você, se não é apenas um pancake social, fique tranquila: vai continuar lá. “Mas eu conheço um casal que era super cool, divertido, gostava de novas bandas e depois do bebê...” Que nada. Pessoas legais que viram malas depois dos filhos eram só malas com bom gosto, disfarçados e cercados pelos objetos de design certos. Depois que seu filho nascer, eu garanto: nenhuma fada vai entrar pela sua janela espalhando purpurina e te obrigando a falar só sobre Hipoglós e Leite Ninho. Se você fizer isso, acredite: vai ser por livre e espontânea vontade.

Por outro lado, se você está esperando o pequerrucho nascer pra parar de fumar, começar a comer espinafre e malhar toda terça e quinta, sei não. Seu filho ainda tem que aprender a ficar em pé, a falar, a mastigar, eu não colocaria sobre ele além de tudo a responsabilidade de mudar seus maus hábitos. Deixe pra prometer – e descumprir - tudo isso no próximo ano-novo. Ou tome coragem e mude agora mesmo, sem filho nenhum, só porque hoje é segunda-feira.