Amiga
dona-de-casa que engravidou sem querer, ou que está fazendo sexo com hora marcada
nos dias férteis ou mesmo que já congelou seus melhores óvulos: eu tenho uma notícia
boa e uma ruim para todas. A boa é que a gravidez não vai mudar você. E a ruim é
que a gravidez não vai mudar você.
Eu
sei, você passou a vida inteira ouvindo que isso aconteceria. Que um belo dia
um bebê iria te transformar numa pessoa melhor, mais amigável, menos invejosa,
menos ansiosa, mais responsável com dinheiro. O grande Antes e Depois do mundo
das fêmeas. Centenas de livros e poesias e textos ruins de blog disseminando a
máxima “Eu era assim, mas depois da maternidade…”
Tudo
mentira. O filho não transforma ninguém. Você vai ter um lindo bebê nos braços
e continuar sentindo medo, inveja, raiva e continuar morrendo de preguiça de
acordar cedo e continuar tendo vergonha de power point com cachorrinhos
dormindo e de crianças que berram pelos corredores dos supermercados (mesmo que
essa criança seja sua).
A
maternidade não é transformadora. Ela é apenas reveladora.
É no
conflito que o caráter se revela e bem, minhas caras, a maternidade é um Big
Mac recheado com os flocos crocantes e coberta com todos os tipos de conflitos:
físicos, químicos, existenciais, emocionais, amorosos, sexuais. E o que
acontece é que no meio disso tudo, é impossível forjar qualquer coisa que não
seja genuíno em você. A maternidade é um jato de água na cara que limpa toda
maquiagem que você já tenha usado na vida. Por isso, depois de um filho, pasme:
você vai ser exatamente quem você é.
Eu
sei, você vai dizer que tem uma vizinha que era loucona, de cabelo azul e
tatuada e virou uma mãe careta que só deixa o filho comer cenoura orgânica.
Sim, todos nós temos essa vizinha. Pois pra mim, na verdade, a vizinha loucona
sempre foi essa chata. Todo o resto era um belo disfarce pra ela parecer mais
divertida. Antes do filho, você pode brincar de ser qualquer coisa e acho que
deve fazer isso até. Depois não dá tempo nem de almoçar direito, quem dirá
pintar o cabelo de azul.
E as
mães que tem filho e param de trabalhar?, você me pergunta. Com certeza não
tinham ambição profissional antes mesmo da gravidez. E as que engordaram 30
quilos? Estavam loucas por uma desculpa pra abandonar a vaidade.
Por
outro lado, conheço mães que fumam, bebem, vão pra balada, correm maratonas,
trabalham loucamente, pulam carnaval ou apenas gostam de conversar sobre
assuntos adultos porque simplesmente sempre foram interessantes e interessadas
no mundo. A logística muda, a frequência pode ser diferente, mas se isso faz
parte de você, se não é apenas um pancake social, fique tranquila: vai
continuar lá. “Mas eu conheço um casal que era super cool, divertido, gostava de novas bandas e depois do bebê...” Que nada. Pessoas legais que viram malas
depois dos filhos eram só malas com bom gosto, disfarçados e cercados pelos
objetos de design certos. Depois que seu filho nascer, eu garanto: nenhuma fada
vai entrar pela sua janela espalhando purpurina e te obrigando a falar só sobre Hipoglós e Leite Ninho. Se você fizer isso, acredite: vai ser por livre e espontânea vontade.
Por
outro lado, se você está esperando o pequerrucho nascer pra parar de fumar,
começar a comer espinafre e malhar toda terça e quinta, sei não. Seu filho ainda tem que aprender a ficar em pé, a falar, a mastigar, eu não colocaria sobre ele além de tudo
a responsabilidade de mudar seus maus hábitos. Deixe pra prometer – e
descumprir - tudo isso no próximo ano-novo. Ou tome coragem e mude agora mesmo, sem filho nenhum, só porque hoje é segunda-feira.