Difícil apontar ao
certo o que a transformou em rocha, mas ela deconfia do amaciante de roupas.
A embalagem ensinava
que o produto amolecia de tudo, mas com essa mulher deu-se o contrário.
Começou na palma
da mão, como uma alergia. Criou casca. Não demorou pra tomar a língua,
pâncreas, tubo digestivo. Quando se deu
conta já tinha o DNA de uma montanha.
(Uma pequena felicidade:
o spray de banheiro só matava 99% dos germes. Achava engraçado toda vez que lia
essa frase e sorria pelo 1% de germes que poupara do terrível destino.)
Outro dia como
todos. O homem sentou ao seu lado, puxou conversa com os joelhos, desligou a
TV.
-Hoje é dia de
dormir com ele – fez as contas - uma quarta. O ano tem 48 quartas,
concluiu a matemática. E abriu as pernas.
Ficar ali não era
nem ruim, era só uma espécie de morte: solitária e obrigatória. Beijaram-se eternos, dois cadáveres. Mas pelo menos
era pra sempre.